Somos o sonho de alguém e deixaremos de existir quando esse alguém acordar? Ou será que não somos algo tão complicado como a proposta anterior mas apenas puros e simples consumidores? Já paramos para pensar que ao nos colocarmos como
consumidores, agentes ativos no ato de consumir podemos estar ultrapassando a tenuê linha que separa o ato citado do simples
consumismo. Consideremos que como muitas vezes cruzamos essa fronteira e avançamos fundo no território além da divisória, entretanto esse ato que nos parece consciente e voluntário pode ser um
condicionamento individual com o qual somos acometidos sem nos apercebermos, tendo em vista talvez pelo simples fato de ser um condicionamento coletivo de nossa sociedade de consumo capitaneada pelo
neoliberalismo recente. A plataforma de lançamento da sociedadede consumo como a conhecemos nos dias de hoje surge a partir de uma economia devastada e desgastada do pós 2ª Guerra Mundial, que precisava ser impulsionada para sair da estagnação e da falta de consumo. A solução é apresentada pelo analista de vendas
Victor Lebow em um jornal sobre vendas no varejo, 1955 Journal of Retailing, página 07, artigo esse com o título
"Price Competition in 1955", no qual ele apresenta o que pensava ser a resposta para o problema diante do qual o mundo sobrevivente ao cataclismo sócio-econômico se encontrava.O trecho abaixo deixa bem claro o pensamento relacionado e o objetivo procurado:
" A nossa economia enormemente produtiva exige que façamos do consumo a nossa forma de vida, que tornemos a compra e o uso de bens em rituais, que procuremos a nossa satisfação espiritual, a satisfação de nosso ego em consumo [...] Precisamos que as coisas sejam consumidas, destruídas e descartadas a um ritmo cada vez maior."
Embora haja controvérsias se o artigo em sua época e contexto seria antes de tudo uma crítica e não uma recomendação, percebemos que o mesmo foi assumido como receita nas décadas seguntes, recheadas de conceitos e práticas como
obsolescência planejada, obsolescência perceptiva, conceitos girando em torno da escravidão do consumismo e sua consorte chamada moda. Tudo isso nos traz a questão da liberdade de sermos escravos do consumismo controlado pelo capital que governa um sistema que defende que devemos ser livres..., para consumirmos. Como já dizia
Zé Ramalho, em
Admirável Gado Novo, "Povo marcado
Êh! Povo feliz!..." .
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